segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Uma crônica sobre o posicionar-se



Identidade e subjetividade: ou seja, o indivíduo tem o direito de se expressar por si, de ser ele mesmo. Se será aceito ou não pela "outridade", "o fulano do lado", isso é outra questão.
Alteridade: o sujeito expressa-se de modo interdependente do outro. O "eu pessoal" para existir necessita do definição do "outro". Nesta questão para o sujeito ser ele, "o fulano do lado" tem de dizer isso, deve refletir sua existência. Se este "eu" é negado pelo outro, isso também é modo de confirmar que o "eu" existe. Se é afirmado, a mesma coisa.
Quando tomo decisões, excluo outras, corto vínculos, me posiciono, estou colocando em prática minha identidade, minha subjetividade. E como todo enunciado, "o que eu digo agora", sempre se destina a alguém exerço, nesta prática, minha alteridade.
Se sou ativista, filósofo, teólogo, professor, estudante, vagabundo, "nem-nem"... sempre estarei, com meus posicionamentos, me impondo. Se isso é positivo para o outro ou não; se isso faz crescer o outro ou não; se isso edifica ou não, temos aí questões de moral. Ou seja, se a jovem manceba decide expor sua intimidade, via face, colocando selfies feitas no espelho com a legenda - "sendo linda, sem ser vulgar"-, e você acho isso ridículo (juízo de valor, você deu uma opinião sobre...), ela, apenas exerce, naquele instante, sua subjetividade. Não é disso que trato aqui: juízo de valor. Trato, apenas, exclusivamente, do posicionar-se.
Assim, de modo conclusivo afirmo: deve-se alguém questionar, esbravejar, rasgar o verbo como o que não se concorda (subjetividade). Isso faz com que o "outro" seja lembrando (alteridade).
O que não pode ocorrer é pegar o outro pelo pescoço e arrochar até a morte. Pois você precisa dele para ser, e ponto final.
Sobre questões de moral, não toque na minha, que eu não toco na sua. Viva seu candomblé que eu vivo minha teologia da prosperidade. Cada um tem o céu e o inferno que quer ou merece. Abraços.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Desencanto


Os rios que emanavam águas luminosas
Se encheram de lágrimas que preencheram
As madrugadas de frio e escuridão
Onde era prateado, tornou-se turvo.
Um coração em destroço,
Tudo por um incisivo:
— não quero e não posso.

As rimas não cantam mais
Não cantam mais palavras
O silêncio choroso, tornou-se.
As manhãs de alegrias
Experimentaram o eclipse tardio.
As músicas, os romances: desvario.
Um coração em destroço,
Tudo por um incisivo:
— não quero e não posso.

O espelho se quebrou
Se quebrou a taça
Se derramou o vinho
Coração ruído em traça.
Onde está a luz e o encanto?
Onde está a plenitude,
A beleza e a felicidade?
Em tão pouca idade
Tive a atitude de amar,
E com palavras-rimas
A uma musa contemplar
Mas hoje, um coração está em destroço,
Tudo por um incisivo:
— não quero e não posso.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Olhos de esmeralda


Sobre uma pontada do coração
a vida ia se exaurindo...
até se chegar ao estado da plena solidão.

Ah! se esses olhos nunca mais fossem vistos...
Ah! se essa voz nunca mais fosse proferida...
como ficaria minha minha sorte, minha vida?
dos segundos eternos que minh'alma pena
lançando o alto voo do sentimento em ida
sobre o vislumbre procrastinado para crescer mais
em mim os teus olhos de esmeralda, virgem serena.

E este medo de perder-te, amada amiga;
Este medo do vulto que caleja o coração.
Medo que me toma e só cessa, se diga,
quando contemplo a lua cheia da tua aparição.

Ah! este olhar que acalma...
Olhos que abrasam a alma
em sentimento doce e terno.
Não saiam de mim, se diga,
pura, modesta, amada amiga
o espelho que reflete tua alma.


(Olavo Barreto)

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Criação


De repente glosa
De repente rima
De repente sina
De repente amor

- uma lânguida espada transpassa o corpo dourado das horas benditas.

- em um relance de luz eterna entoa-se o salmo responsorial das obscuridades.

- cai uma gota de sabor na brancura colada na imensidão do quarto.

- no silêncio um relógio palpita.

Inaudição


Foi aquele som
aquele som inaudível
que transpassou
com milésimos de segundo a minha alma.

Foi aquele som,
cumprimento na penumbra,
que se plantava e não colhia
que se lembrava e ao mesmo tempo se esquecia.

Foi aquele som
a despedida,
o ser real das disparidades,
o leito eterno dos desencontros,
a calma despedaçada,
a alma em chamas,
o sentimento oprimido,
o desabrigado na calçada.


Olavo Barreto.