segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Crise de ciúmes

Hoje, diante de tanto atordoamento que meu coração vive, eu não sei até quando vou aguentar ficar com este gato na minha garganta. Entre o coração e a boca, este gato já arranhou tudo que pode solucionar a contemplação do amor no amor. Eu desejei um banho de água fria para conter meus sentimentos. Eu desejei ficar o dia inteiro em uma chuva, pegar um resfriado e não sentir este gato da garganta. Senti o mundo girando e a sua mão desaparecendo de minha visão. Hoje senti a chave da vida cair das minhas mãos. Não consigo ficar de pé diante da aparição plena da causalidade e do descuido. O mundo quase morreu diante de minha face.
Eu, logo eu que tenho o maior desejo de olhar nos teu olhos e colocar para fora este rio que todo dia bate na represa do meu coração, tive o curso do rio quase cortado. Eu quero te molhar na alma com o meu rio de sentimento. É um tormento guardar isso. Esperei uma eternidade na escuridão dos dias claros. Buscava cavernas para não revelar o curso do meu rio. Muitas almas chegavam para se aproveitar da água límpida do meu sentimento, mas nunca deixei que ninguém tocasse na margem, nem no fundo deste rio. Reservei uma noite enluarada para tu, dama dos encantos, se molhar por inteiro nos rios da minha alma. Neste dia te cobrirei de um bálsamo inebriante de amor. Haverá cânticos de suave harmonia conduzindo o vento que cobre teu rosto reluzente. Como luz que invade um ambiente escuro, assim tua alma invadirá o curso do meu rio. Reflexos de tua amplitude luzente farão das margens do meu rio a prata mais pura em reflexo de luz. Mas... para tanto, não quebres o cristal que me une a ti. Não quebre o espelho que me faz te ver em distância convexa. Mal posso pensar se este cristal se espedaçar. Em cacos cortantes, meu coração também seria conduzido.

Minha crise de ciúmes apenas me mata.

Olavo Barreto.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

À luz de um dia


Esta manhã, refratário de nossas almas, contempla a vivacidade que existe entre o repouso e a luta. Muitos acordaram hoje para ruminar o brilho das fugacidades em cada passo cheio de bolor rotineiro. Muitos acordaram hoje para teogonizar sua incertezas, cheias de ilusão e falsas conquistas. Muitos acordaram hoje para protelar o substantivo de suas vivências, ora para dar vasão à preguiça, ora para sustentar sua cobiça. Muitos acordaram hoje para reviver na fé, pulando em cada instância para não terminar sem ouvir a voz da ciência divina. Quantas pessoas não acordaram também? Procuram o asilo terno de sua cama para nunca mais voltar. Procuraram a luz que de tão forte nos faz cegar. Agora, poucos, e disso tenho certeza, acordaram para fazer poesia. Nem que fosse para cantar a musa antiga, velha madona dos nossos cantares. Poesia é café amargo e sôfrego. Tomai teu café e vive tua canção. Toma coragem na luta, e vive tua poesia. Porque ao alvorecer na nova manhã não terás mais a mesma rima.

Olavo Barreto.

domingo, 22 de setembro de 2013

Palavras e alma


Palavras são fragmentos da nossa alma que quando saem de nossas bocas enchem o mundo de nós mesmos. Sozinhas fazem pouco, mas quando encontram outras, soltas na imensidão do mundo, uma teia de poesia enche a amplitude no nosso ser. Quando as palavras se encontram, as almas fazem o mesmo.

Olavo Barreto.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Repouso



Deita morena...
Deita sobre mim o teu coração inebriante
Deita sobre mim as curvas da consolação
Deita sobre mim os teus lábios angélicos.

Deita morena...
Deita sobre mim a fechadura que abre a vida
Deita sobre mim os rios do teu encanto
Deita sobre mim os diamantes cintilantes de tua boca.

Deita morena...
Deita e repouse em eterno de amor
Deita e dorme nesta madrugada onírica.

Olavo Barreto.

Desconsolo



Chora minha alma, chora
de amargura e desprezo...
Chora minha alma, chora
de pesar em terno ensejo.

Chora minha alma, chora
por não mais ter paciência...
Chora minha alma, chora
pela boca calada à clemência.

Chora minha alma, chora
coração negro e sem som...
Chora minha alma, chora
lágrimas frias de profundo tom.

Olavo Barreto.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Sonhos e beijos


Eu sonhei contigo, morena.
Eu sonhei te beijando eternamente
Tua boca de sabor, pura e pequena.

Eu sonhei contigo, morena.
Viajando entre nuvens
Tendo uma luminosa paixão plena.

Ah... nossos beijos
sonhei como um homem sonha com sua amada...
Tu, vestida de branco, sorria para mim
Eu, de vestes simples, caminhava ao teu lado
Tu, com palavras doces, contemplava meu coração
Eu, com um abraço terno, te abraçava em comoção.

Éramos perfeitos.

A luz do nosso olhar ofuscou o brilho da lua dos amantes.
E o sol não mais aparecia,
Porque o nosso beijo era mais intenso,
Do que a própria luz do dia. 

Olavo Barreto.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Confissões



Ai, minha Morena dos Encantos...

todos os dias penso na tua beleza. Como eu queria ser Homem o bastante para poder ter só o teu olhar. Teus olhos são como um sol que nunca passa. Mesmo diante da noite, o teu brilho permanece intacto. Não podem as trevas te tocar; não podem as trevas te amarrar; porque você é toda luz. Se o meu coração que era uma nuvem escura, apenas com a tua presença, se tornou centelha de amor, imagina se tu voltasses toda para mim?
Ai, a tua luz me transpassaria... Seria eu um ser todo amor. Seria eu um ser de luz como tu, Anjo de suprema beleza.
Nas noites de pensamento vulto, não consigo dormir sem contemplar no meu coração a tua imagem. 
Virgem eterna das saudades: foi assim que te nomeei, desde a última vez que trocamos palavras. Minhas palavras, tão monótonas, cumpriam a escala normal do tempo, afirmando banalidades. Tais palavras, mascaradas de nenhum sentimento, desejavam revelar-se para ti como um mel apaixonado.
Ao ver-te, amada, sob o crepuscular da manhãs, nas horas médias entre o viver e o repouso, meu coração dói. Tenho a maior dor que uma alma pode sentir. Sem nenhuma intervenção feita pelo braço, que arrasa o peito, que quebra o cristal do corpo. Sinto uma dor imensa. “Dor que desatina sem doer”, como o amigo Camões revela. Eu sofro, por mim mesmo, porque tua alma não se volta para mim. Ai como desejo sentir tua alma respirando junto a minha, sincronizando os cânticos espirituais que proferem nossas bocas no êxtase da bonança, do laço, do eterno dar-se em pleno sentimento. 

Olavo Barreto.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Quantas páginas são precisas para contemplar uma manhã inteira?


Hoje eu decidi escrever. É preciso mais escrever, para mais viver! É preciso juntar um montante de páginas para "contemplar inteiramente uma manhã". Na ponta do lápis, os dedos no teclado. Quis ser Manoel de Barros para desvendar o amanhecer. Mas não qualquer amanhecer. O amanhecer da completude. 
Eu mesmo estou me desafiando. Não posso contemplar o crepúsculo deste dia sem ver um montante de páginas que relatam o respirar das horas. 
Portanto, meu leitor, se quiseres ler o uma alma, aqui está ela nua. Tirei a roupa da vaidade e me deixei contemplar no puro momento da leitura. 
Se poesia farei, nem eu mesmo sei. Sei que escrevo e "cumpro a sina". 

Eu, me sentido poético e meio no limiar de uma tarde. 

Olavo Barreto.