terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Introspecção



Hoje descobri que só consigo ser complicado. É uma dádiva que adquiri com o tempo e acho que vou levá-la para a vida inteira. Não é ser complicado por ter de complicar os fatos por misturar as pontas dos fios em diferentes hastes de forma a embaralhá-las. Minha forma de complicação é outra: algo que não está no mundo sublunar e pedestre. Também não estou vivendo na órbita da lua, embora minha carta astral diga que eu sou desse modo. A minha complicação é de ordem banal (que nem sempre é minha, instaurando aqui a primeira confusão de si mesmo). São as banalidades que não dou conta. Ser complicado é ser dependente.
Clarice Lispector inicia A hora de estrela dizendo que “tudo no mundo começou com um sim”. Pois, é. Isso não cabe na minha cabeça, porque antes de dizer o sim eu tenho de me curvar aos meus consultores internos para perguntar – posso? Meus consultores são muito exigentes e na maioria das vezes dizem não. Nem sempre com um por quê claro, mas sempre definitivo. Das vezes que não atendi aos apelos de meus consultores tive que sofrer com suas indiferenças. Ou seja, eles mandam umas pragas para que a minha luz seja abalada. Transgredir a opinião deles é a melhor forma de ficar à deriva. Desse modo, prefiro não mais ir de encontro com as verdades que eles pregam, pois sempre me prejudico. Na verdade, de certo modo, com todo respeito, e sem querer ofender, eles são uma espécie de encosto. Eles sopram no ouvido.
Com tudo que eles já me oportunizaram, tem uma coisa que eu não entendo, mas aceito bem (ou não). É o fato de eles me reduzirem; sempre fico no ímpar. Não adianta andar muito, procurar muito é como se houvesse uma força que coloca para traz. Um enigma sem fim advindo de uma esfinge severa. Às vezes queria ser eu mesmo, sem precisar ouvir a voz dos consultores. Mas pelos meus cálculos, que eles próprios me ensinaram, devo me libertar quando uma voz mais forte aparecer. Mas como ela nunca aparece, nem eu nunca tive o interesse de procurar que voz era essa, fiquei aqui mesmo plantado. Talvez essa seja a melhor condição de me definir. A condição de planta é a mais aprazível no momento. Mesmo vivo e observando o mundo sob uma ótica única, nunca saio do lugar. Cresço no mesmo canto, com os mesmos laços, e caso eles sejam cortados eu morro.
Teria tanta coisa a relatar, mas os consultores já estão me dizendo que é hora de se falar para dentro. Do mais, só posso dizer: não tenho futuro traçado, por que estou fadado a mudá-lo, até que ele não seja mais meu; não tenho presente, porque os consultores dizem sempre o que não fazer de forma ao presente ser só deles; só tenho passado, porque a lembrança é o único direito de que não fui tirado; e viver é estar na condição de vegetal: vivo, mas parado... até que apareça a nova ordem trazida em voz consultiva. 


Olavo Barreto.

sábado, 20 de outubro de 2012

Sobre a experiência do Livro


Embora o título do texto fale sobre a experiência do livro, aqui vou falar da minha experiência pessoal de possuir livros. A razão do título estar assim se refere ao majestoso ato do Livro. Este ato é um compósito de emoções que trazem à tona tudo que se refere, emocionalmente, à leitura, que nesta reflexão começa pela aquisição desta peça esplendorosa do conhecimento chamada livro.
Como quase toda reflexão pessoal possui narrativa, esta não seria diferente. É bem verdade a que a voz deste sujeito está cheia de saudosismo e elevação. Sendo épico, mas com um tom menos elevando quando fala de suas experiências leitoras. Pois aí vem a nossa história:
Já faz muito tempo, mas na memória este acontecimento é como se tivesse acontecido hoje pela manhã. A memória, por mais falha que seja em alguns momentos, é sempre eficiente quando algo nos marca profundamente. E este acontecimento, sem sombra de dúvidas, foi imprescindível para que eu possa ser o que sou hoje, ter o que tenho e pensar o que penso. Depois que nós começamos a refletir sobre nossas experiências, percebemos que cada momento da vida é de importância extrema para a nossa constituição como sujeito. Todo aquele discurso sobre a valorização das coisas pequenas é verdade. São os elementos de base que sustentam o grande homem. Peças pequenas, de passível vivência, de plena insignificância momentânea, mas com força destruidora, se for o caso. No nosso caso, a força daquele momento é construtiva, positiva, no entanto, simples. Deveria eu ter meus 09 anos e viajara ao Recife para visitar os familiares. Lembro bem da casa. Era branca, situada em uma avenida muito movimentada. Possuía um grande quintal, três quartos e tudo mais que faz parte da mais comum casa. Mas o segundo quarto guardava um grande tesouro, algo que para mim era inacessível. Entrar naquele quarto era para mim um momento de satisfação. E eu entrava, mas saia do lugar incomodado por não possuir aquilo, naquela complexidade, que para uma criança era muito complexo, no entanto, muito chamativo para mim, mesmo sem muito entender do mundo e das coisas. Era o quarto do Téo. E o que havia nele? Sua biblioteca. Simples. Foram aqueles livros e o olhar de um apaixonado pela leitura que me fizeram despertar. Não me lembro do que dizia, mas lembro de alguns livros de capa dura vermelha, algo parecido com uma Barsa. Não me lembro de ter aberto aqueles livros, mas eles tinham chamado minha atenção. E aí surgiu o vil sentimento: eu precisava de uma biblioteca. Para quê, naquele momento, eu não sabia bem o porquê, todavia, deveria de ter uma biblioteca num futuro bem próximo.
Sempre fui devoto da leitura. Minha mais remota experiência com esse mundo, do que eu tenho lembrança, é de que logo após fui alfabetizado lia tudo que me aparecesse. As viagens para a capital era uma grande festa. Ler aqueles outdoors e depois ser aplaudido por isso sempre foi rotina após os primeiros anos de alfabetizado. Esse também foi o primeiro incentivo que meus pais me deram para hoje me tornar um leitor. E nesse sentido, o incentivo é arma mais poderosa na formação de leitores. Felizmente ou infelizmente — tudo depende da finalidade — o ser humano é vaidoso. Ele precisa de reconhecimento para continuar. Apenas as almas mais sensatas não querem o reconhecimento imediato e instantâneo. Mas como estou em processo evolutivo, como diriam meus amigos espíritas, sou um humano normal dotado de cobiça. E a cobiça do conhecer mundos através da leitura sempre foi uma ótima motivação para se seguir em frente em busca do Mais.
Algo significativo nesta minha formação foi o contato com as bibliotecas desde cedo. A primeira biblioteca que frequentei foi, na verdade era apenas uma estante, a da secretaria municipal de educação, daqui da minha cidade. Uma senhora chamada Ceci, funcionária do local, anotava na sua agenda os livros que eu tomava emprestado. E aí, nessa época, tive um grande mergulho no mundo do Monteiro Lobato, Câmara Cascudo, Ana Maria Machado, e tantos outros...
A minha segunda biblioteca foi a do sindicato rural. Ali tive belas experiências. Foi lá que, pela primeira vez, conheci, e pude apalpar, uma enciclopédia. Aquilo era o maior tesouro que uma criança poderia conhecer. Como eu não podia comprar uma, ficava tirando cópias de algumas páginas para um certo futuro ter a minha própria enciclopédia. Cada imagem, cada termo, era como se o mundo estivesse se desnudado. E eu, mesmo sem muito suporte, estava compreendendo a complexidade dele. Assiduamente, toda semana, era um livro novo. As vezes até dois. O cheiro de local fechado ainda ecoa na minha imaginação, como se o primeiro momento de visita àquele local ocorresse agora.
Sempre fui, também, atrevido, queria ler coisa de gente grande. Me lembro que com uns dez anos de idade, me deparei lendo os sermões de Padre Antônio Vieira. Vou confessar uma coisa: peguei aquele livro só para ver a reação das professoras. Todo mundo ficou impressionado com aquilo. Como um menino que ainda estava no ensino fundamental se dava ao luxo de ler Vieira? Polêmicas à parte, li apenas um dos sermões contido no livro. Não me lembro bem qual era o tema dele, mas com exatidão, me lembro das expressões em latim. Eu, pobre mortal, estava perplexo por não saber o significado daquilo. Embora isso fosse já em pleno século XXI, na minha cidade não existia internet, nem muito menos um dicionário de latim. Mas valeu a experiência.
Minha terceira biblioteca foi a da própria escola. Infelizmente, de surgimento tardio, mas de importante significação. O PNBE, Programa Nacional Biblioteca da Escola, tinha enviado muitos livros à nossa escola. Daí surgiu a necessidade de desapropriar um espaço usado para depósito dando abrigo aos novos livros. Eu, como um dos amantes mais piegas deles, me ofereci como voluntário para a organização e catalogação do acervo. Foi nesse tempo que li Vidas Secas, Dom Casmurro, Iracema, e tantos outros. Foi um período de devoção aos clássicos nacionais.
No Ensino Médio, a frequência às bibliotecas se reduziram. Mas a leitura não. Neste período comecei a tomar gosto pela literatura popular. Li e comprei muito cordel. Chegou um determinado tempo que eu não consegui ler outra coisa. De tanto ler cordel fiquei com a cognição apurada pela estrutura do verso, ao ponto de quando lia uma narrativa achava estranho, pois não era o mesmo ritmo.
Neste meu relato muitas coisas ficaram de fora. Existiram momentos e momentos importantes na minha formação inicial da leitura. Por que não citar as aulas do Telecurso 2000? Foi lá que tive muitos direcionamentos de leitura. A escola não tem uma parte muito significativa na minha formação. A leitura para a sala de aula sempre foi muito enfadonha, cheia de porquês, às vezes sem nenhum sentido para mim. Era um saco ter de ler aquele livro. Mas quando a iniciativa era nossa, tive bastante êxito.

Minha caminhada continuou e ainda continua. O universo dos livros ainda é o meu fraco. Não posso ainda dizer que tenho uma biblioteca, mas sim, posso afirmar que ela está em construção, assim como, eu ainda, sempre vou estar em processo. Pois os livros nos abrem feridas que são curadas por outros livros que abrem novas feridas. Um círculo vicioso, um eterno processo. Um dia em que o livro nos deixar de chagar é porque o livro não está mais cumprindo sua missão ou nós não estamos cumprindo nossa missão de leitor, ou seja, a de se deixar marcar. Uma boa leitura sempre deixa marcas. As que não deixaram simplesmente foram ou perca de tempo ou simples reconhecimento de letras vazias.



Olavo Barreto.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Sobre Livros #1


Sobre a série "Sobre Livros"



Há algum tempo venho pesquisando na internet blogs sobre leitura e descobri vários. Dentre os achados na minha pesquisa, evidencio o da blogueira — mas ela não se considera como tal — Juliana com seu O Batom de Clarice (http://www.obatomdeclarice.com/). Além de postar alguns textos apreciativos sobre livros no seu blog, ela também posta periodicamente vídeos, sobre o mesmo assunto, em um canal no YouTube (http://www.youtube.com/user/juligervason?feature=mhee). Os vídeos dela são muito bons, já estou fissurado em acompanhar o “trabalho” dela neste blog. Está super-recomendado clicar nos links aqui disponibilizados, pois se você gosta de leitura encontrou uma grande parceira neste gosto. E uma parceira de qualidade, pois a nossa menina das letras é simplesmente Doutora em Letras, com tese defendida, nada menos, sobre Clarice Lispector. Por tanto, é altamente sugestivo que você a acompanhe.
Outra blogueira muito sugestiva é a Tati, como carinhosamente Juliana a chama, aquela é a dona do blog TINY little ThInGs (http://frappuccinomochabranco.blogspot.com.br/). Além de livros, nossa amiga traz indicações de filmes e outros mais. Seu canal no YouTube é este: http://www.youtube.com/user/tatianagfeltrin?feature=plcp. É passagem obrigatória também. Super-recomendado.
E eu, pobre mortal, me achei no direito de, assim como minhas ídolas, fazer vídeos sobre minhas experiências leitoras. Daí surgiu à ideia de fazer a série de comentários Sobre Livros. Não prometo uma periodicidade na composição dos vídeos, mas na medida do possível eles vão aos poucos aparecendo. No memento em que escrevo esta postagem o vídeo está carregando. Surpreendi-me com os 18min de falatório, mas acho que ficou bom. Está em linguagem bem informal, mas não perdendo o foco que era a apresentação dos livros. Quero me desculpar de antemão, pelo meu forte sotaque paraibano. Se alguém se sentir incomodado com o meu sotaque, não posso fazer nada, já fui fabricado assim, estou feliz com isso. Do mais, resta saber se vocês se interessaram pelos meus comentários. Espero vê-los, tanto aqui no blog como no canal do YouTube onde o vídeo está lotado.
O primeiro vídeo da série pauta-se nos comentários sobre Boca do Inferno de Ana Miranda, O mundo de Sofia de Jostein Gaarder, Poesia lírica e indianista de Gonçalves Dias e Os melhores poemas de Olavo Bilac uma seleção de Marisa Lajolo. São comentários simples, fruto das minhas experiências com esses livros. Além destes, falo do quem venho lendo neste mês de setembro de 2012. São eles: “Amor Líquido” – Zigmunt Bauman, “O ser e o tempo da poesia” – Alfredo Bosi e “Abc da literatura” – Ezra Pound.

domingo, 9 de setembro de 2012

Depois de ouvi-la pela última vez



Dedo a dedo, nós fomos nos afastando nesta fria madrugada.
Nossos corpos, tão esplêndidos... não possuem a clareza das nossas antigas manhãs.
Nossas tardes, mutáveis... passam de segundo em segundo procurando os caminhos convexos da indiferença.
Ganhamos ignorâncias que apartam nosso coração com um mortífero fel.
O silêncio se tornou a música desesperada de uma respiração de ofegante inconformismo.
Sem direção, eu tomei o caminho do sul, e você tomou norte. Novas vibrações...
As músicas fúnebres são o acalanto daquilo que era doce e terno.
O inverno é a estação da minha nova qualidade, viver e sonhar depressão.
Triste verbo que tenta presumir e acaba desfeito, do pretérito subjuntivo imperfeito.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

As Marcas



Ninguém passa nas nossas vidas sem deixar sua marca. Todos nós somos marcados pela personalidade de alguém, seja de forma direta, pelo contato diário, pelas conversas corriqueiras, os bons dias apressados, os desentendimentos e as pequenas confraternizações; ou pelo contato indireto, a influência de alguém da mídia, ideólogos, pessoas distantes à nossa realidade material...
Seja de uma forma ou de outra, essas pessoas cumprem o papel de atuar no teatro da vida, deixando em nós sua impressão digital. É interessante observar que isso é cíclico. Nós também estamos deixando nossas marcas na vida de outrem. Esse aspecto da vida em sociedade é sublime, pois nos formamos como seres humanos dotados de qualidade, não de forma separada, mas em construção comunitária. Eu me construo, e comigo, construo o mundo matizando as cores que permeiam nossa realidade.
A chegada do fim do ano é a maior festa de nossas culturas, seja ela ocidental ou não. O “réveillon” é um ato celebrativo onde mais um ciclo se completa, o nosso trabalho de marcar vidas completa mais uma etapa. Para uns, será a conclusão de um trabalho que durou a vida inteira, e para outros mais, será o começo de um trabalho cansativo, duradouro e gratificante. Nessa nossa labuta, marcamos uns com mais intensidade e outros com menos, e assim, sofremos pelas duas vias, mas esse sofrer nem sempre é ruim, nós é que não nos acostumamos com a face branda do sofrimento deixando perpassar a sua face negra.
Seja como for, devemos apenas viver e deixar nossas marcas por aqui, pois quem não está fazendo isso, simplesmente não vive, porque manchar o quadro da existência com os nossos dedos para misturar as cores  do cotidiano é a coisa mais produtiva que podemos fazer nesse estágio evolutivo para a outra margem, por nós não conhecida. E até lá: mais um ano novo, mais um “réveillon”, mas uma etapa concluída, porém, não conclusa.

Texto produzido na véspera do final de 2011.


segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Sobre sexualidade

Um tema bastante velho, mas sempre volta com o vigor que ele próprio transmite. Afinal, um ser humano, dotado de emoção e sentimento, não pode deixar de fora das suas divagações, o tema da sexualidade, pois o SER é completamente sexual. Na maioria das vezes, tudo se define a partir do sexo da coisa. E eu, como exímio exemplo desta espécie, cheia de desejo sexual, tentarei traçar o que venho percebendo sobre a sexualidade hodiernamente. Pois, assim como a identidade do ser humano, a sexualidade, vem se moldando com o passar das gerações. E isso é fruto das escolhas e processos humanos que regulamentam o caráter desses viventes num planeta chamado Terra.
Nunca li a História da Sexualidade de Michel Foucault, tenho pretensão de lê-la, pois pelo que vi em alguns sites é um dos principais ensaios filosóficos acerca do tema. Com certeza, quem já a leu, deve ter mais propriedade a tratar do assunto. Mas, não citando aqui o cânone sobre, resta comentarmos nossas impressões particulares, frutos de nossos empirismos, que por algum momento serviu para que uma mente iluminada tomasse como exemplo na formação de uma ideia. Já ouvi em algum lugar que, quem tem opinião não tem razão, e a ciência é a fonte mais segura de se encontrar essa razão, portanto, todos nós para estarmos seguros do que falamos devemos-nos portar de saber científico. De fato, a ciência tem muito a dizer, mas como ela é uma criação humana, por consequência ela é falível. Assim também como esta observação sobre, como se diz voluptuosamente em francês, sexualité. Portanto, vamos elencando o propício, e depois vemos as falhas…
Sexualidade é um termo muito amplo, e a princípio, não nocivo. Afinal, todo contato que a criança possui com a mãe, desde sua concepção, está ligado à relação entre corpos, que de forma mais restrita, refere-se ao sexo. Ou seja, o olhar, o cheiro, a sensação de segurança é fruto de algo menor, mas, no entanto, basal. A sexualidade é, assim como a bondade, a fraternidade, etc., algo que une pessoas, havendo sempre a comunicação, entre estas, em volta de um conceito. O sexo é o fruto dessa comunicação, algo menor, mas de bastante força, pois é dele que advém a vida. A religião cristã vê o sexo, dentro dos parâmetros conjugais, um trampolim para se chegar a Deus. Pois, se a criação é vida, e o sexo favorecendo esta, temos algo de caráter divino. Além de ser uma das melhores terapias existentes, de grande relaxamento após o ato. É o momento em que duas almas se completam, dois seres se sujeitam, se igualam. Enfim, é um elemento essencial para o bem viver. Todavia, atualmente, este elemento tem usurpando a vitalidade que antes possuía. E tem feito mais malefícios, do que benefício se for considerar a amplitude que ele tem tomado.
Em termos de comportamento humano, tudo é um processo. Não podemos fazer julgamentos de casos isolados sem antes tomar um olhar contextual. A ação de hoje é fruto de uma história, de um valor que está imbuído na própria ação, e que advém de um longo período de acontecimentos viabilizadores da ação que vemos hoje. E sobre isso, é bem verdade a afirmação que um pensador disse “entre o céu e a terra, nada é novo”. Nada é novo, mas a cada dia, vemos novas nuanças das coisas existentes. Sexo é a coisa mais antiga do mundo! e, no entanto, ele nunca foi o mesmo em todas as épocas. Houve um tempo que a prática sexual era tida exclusivamente com fins procriativos. Neste tempo a posição sexual conhecida hoje como papai-mamãe, possuía outro nome, era a posição missionária. Ou seja, o ato procriativo era uma missão, algo santificador para quem seguia este preceito. Houve um tempo também, que o contato visual entre homem e mulher era proibido. A mulher não podia ver os órgãos genitais do marido, portanto, a cópula era realizada de costas. Aconteceu também de muitas mulheres terem seus clitóris mutilados, pois se pregava que o orgasmo era satânico. Da mesma forma que muitos homens tiveram seu escroto mutilado, ou por ter realizado perversão sexual ou por prática de pureza. Mesmo sendo um ato bom, o ser humano já o considerou um malefício.
Com a revolução dos costumes, durante o século XX, o sexo vem ganhando um novo valor. A combinação sexo e drogas é um boom para emoção dos jovens das décadas de 60. Aliado a este novo estilo de ver o sexo está a mídia, grande propagadora das ideias de massa. Ela é a responsável pelo que eu chamo de sensualização do pensamento, um tipo de ideologia imbricada em cada passo dado pelos veículos de comunicação. É através dessa ideologia que as crianças estão começando mais cedo à vida sexual, no que diz respeito às práticas subsequentes e anteriores ao próprio ato. Meninas e meninos têm aproveitado de forma efêmera o espaço da infância. De fato, reconheço que o ser humano, passa por um processo para que o seu libido esteja concentrado para a procriação, mas atualmente nossas crianças têm chegado à fase genital, segundo Freud, com menos idade. Nossos pré-adolescentes têm procurado muito conhecimento acerca das práticas sexuais e os adjacentes dessa. A infância deslumbrada pela inocência tem dado lugar à efervescência fálica promovida pela mídia. Notem que o culto ao corpo, a pregação de liberdade sexual a todo custo, têm sido amplamente divulgados em comerciais, novelas, noticiários, programas de humor, etc. Nunca se vendeu tanto sexo, como nesses tempos. Em territórios acadêmicos sempre se prega um niilismo absoluto, como se tudo fosse mentira. Essa ideia é tão obsoleta e irracional que todo dia se prega a verdade nas revistas de boa forma, nos programas de entrevista, etc. Não tem como correr, não existe lugar para se esconder. Você vai cair de qualquer maneira no abismo do sexo, porque ele está em tudo. Mas não é o sexo da posição missionária, é o sexo capitalista, que obriga a você está na moda, pois não vai arrumar namorado; que obriga a você sair do armário, para ser uma Queen cheia de glamour, sendo, na maioria das vezes, uma grande mentira. Na verdade, o ser humano não anda neste ritmo que a mídia impõe. A prova disso são as lotadas clínicas psiquiátricas, repletas de corações amargurados, feridos por não se sentirem completos. Mas é assim mesmo, quanto mais incompleto, mais se vende. É verdade, como já disse Paulo Freire, o ser humano é incompleto, no entanto, essa incompletude deve o impulsionar à mudança. Já a incompletude, efeito colateral da mídia, não possui fator regenerativo.
Já ouvi alguém bastante lúcido afirmar que cada época possui uma identidade, e as gerações posteriores à época passada tentará superar a identidade por ela pregada. Depois de muita repressão, vêm os tempos de libertação, mas depois e volta a ser contido. Acredito que estamos sofrendo uma renovação de valores, que diferente de épocas passadas, terá um processo lento de consolidação. Temos que aceitar, estamos doentes por sexo. O sexo exagero, sem amor, nos tem colocado para baixo como espécie. A busca por emoção tem custado muito caro para nossos jovens, e consequentemente quem paga é toda civilização. Essa doença tão voraz tem imposto a iniciação sexual de uma maneira tão vil que os jovens atualmente têm uma grande dificuldade na definição sexual. Com mais frequência vemos relações de dupla orientação. Sei que o ser humano possui certa inclinação para a clivagem de valores, mas isso está acontecendo rápido de mais, em frações de segundos. Sou muito humanista, e muito flexivo, mas temos que ter uma posição fixa em certas ocasiões. E sobre sexo a minha está bem definida aqui, o sexo deve ser algo natural. A artificialidade dele está fazendo com que nós tornemos plásticos, nem sempre biodegradáveis, nem sempre prontos para uma reciclagem. 

terça-feira, 17 de julho de 2012

Dom da repressão



Educação: um tema que nunca sai dos nossos diálogos. Na escola, na igreja, na mídia, no bar... não existe lugar para se falar em educação. Já me peguei um dia falando de "educação" em um hospital, num velório, durante um culto religioso; mas por que o homem insiste em falar nesse assunto? Afinal, não há nada de novo no tema, se formos pensar por um viés popular. Mas, o que eu quero falar hoje aqui não é sobre a educação em si, mas sim, algo que permeia e nossa a educação, talvez permeou a minha, permeia a sua, e vai permear a dos nossos filhos. 
Imagine uma criança sem malícia nenhuma em seu peito. Limpíssima, alma de brilho intenso. Mas logo é colocada dentro de um vaso. Este vaso possui tintas diversas, umas mais finas, outras grossas, outras claras ou escuras... a criança de branca vira um emaranhado de cores. Como sabemos, as cores possuem personalidade, o azul transmite tranquilidade, enquanto o preto luto (para os orientais o luto é branco...), as cores da alegria são amarelo, vermelho... e logo este novo ser vai se delineando nessas cores. A criança nasce limpa, mas a cultura vai imprimindo na sua personalidade o que se deve ser, ou não ser. Em minhas divagações filosóficas fico refletindo sobre essas questões, e cheguei a mais uma nova indagação: somos seres programados? será o que somos, quanto a nossas características, seres inatos? Pensando e repensando, talvez não. Quem é que nos deixa preconceituosos? Onde percebemos o caminho da "verdade" e o da "não-verdade? A resposta é simples: a herança cultural.
Só pela carga cultural que carregamos nas costas desde nossa concepção materna é que nos tornaremos os sujeitos que somos. O contato com a voz da mãe, o primeiro contato visual com o mundo, as primeiras palavras... são elementos que nos forjam dentro da cultura no qual estamos imersos.
Mas, o que tudo isso tem haver com "educação"? tudo isso também é educação. Uma educação para a vida, que forja a vida, que faz com que eu seja eu e você seja você, nos assumindo como sujeitos. No entanto, não é isso que queremos tratar aqui.
Mas o que acontece mesmo em termos de educação é a "repressão". Nossos sentidos desde cedo foram condicionados a querer apenas um tipo de coisa, uma concepção unívoca, um caminho a seguir... Por que rotular os caminhos como correto e errado? o que mesmo determina que algo será ruim ou bom? se formos investigar, no fundo de cada concepção de coisa certa está aquilo que valora a vida, ou seja, se não proporciona a vida não pode ser considerado o correto, o aceitável. Isso tem um fundo de razão. É preciso que a vida possa ser valorizada para que o ser humano possa caminhar, existir e compartilhar experiências, forjando outros homens. Mas nos esquecemos que nessa nossa caminhada, enquanto forjamos homens, estamos pregando a pedagogia da repressão. Por mais que se diga "pregamos a democracia", "todas as vozes possuem vez", nesses mundos imaginários sempre haverão pequenas vozes não ouvidas, insignificantes. Mas existe uma onda ainda pior, algo que não se perdoa. Não se pode nem enunciar, mas todos nós estamos fadados a isso, e esta lástima reside no nosso subconsciente. É algo que nem a maior eloquência na escrita poderá lhe transmitir. E talvez nem seja preciso.
O ser humano possui um verdadeiro dom para a repressão. Dom de calar a voz até do mais falante. De quebrar o passo do mais andarilho, de apagar o fogo do mais ardente. Enfim, de ofuscar o brilho de uma felicidade. Não é preciso dizer mais nada, pois eu e você temos esse dom.


quinta-feira, 5 de julho de 2012

Declarações


Você conseguiu extrair a maior porção de sensibilidade que um homem pode ter. Sem pressa, com poucas palavras, soube demonstrar beleza e sentimento através das palavras soltas, dos pensamentos vagos, nas ações nem sempre perceptíveis. O amor se escondia em cada passo dado, em cada olhar sumido, em cada suspiro abafado. Aquilo que latejava o coração, fazia com que a alma em esplêndido êxtase conhecesse uma eroticidade velada que clama a chama da consumação. Mas, o tempo foi o inimigo, a ingenuidade o veneno, para que essa chama diminuísse, mas ainda em brasa, nunca se apagasse. 

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Poema publicado em antologia nacional



Concurso Nacional Novos Poetas 2012prêmio Sarau Brasil é um concurso que tem por objetivo demonstrar como está a literatura brasileira hoje, apontando principalmente, que ela está viva e continua a todo vapor celebrando a vida e a poesia nos mais diversos estilos de poetas e poemas. Como o concurso é de âmbito nacional, foram selecionados autores de todo país. Uma seleção acirrada, pois entre os mais de 2000 (dois mil) inscritos, apenas 250 (duzentos e cinquenta) autores foram escolhidos para fazerem parte da antologia que registra os melhores poemas selecionados neste concurso.
A divulgação do concurso se deu nas mais diversas mídias. Teve-se apoio principal da TV Cultura e TV Brasil, além das parcerias com as universidades federais de Pernambuco e do Rio de Janeiro, bem como da Empresa Brasil de Comunicação. O concurso, para sua efetivação, foi promovido através de edital público, e a antologia sai publicada pela editora Vivera, com sede em Cabedelo/PB.
Tive conhecimento do concurso na universidade, faço curso de graduação em Letras Português na Universidade Federal de Campina Grande. Então, tomei a iniciativa de enviar um dos meus poemas mais lidos na página que tenho no site Recanto das Letras. O poema selecionado pelo concurso é chamado “Versos da Verdade”, poema que grita a fim de saber onde está a verdade inibida pelos controles da sociedade. O mesmo poema encontra-se na página 218 da antologia, e eu o considero um grande marco em minha produção de escrita, porque foi a primeira vez que tive algo publicado dos meus textos de criação.

Matéria publicada anteriormente em <http://gurinhem.com/noticia?id=1144> no dia 28.06.2012

domingo, 20 de maio de 2012

Minha experiência pessoal com o teatro


Você já foi ao teatro? Essa é uma pergunta muito difícil de responder. Afinal, o que é mesmo teatro? Passei alguns anos da minha vida sem saber o que é, realmente, o significado essencial deste termo. Sempre no colégio, na igreja... vi filetes de teatro, como sempre, nada de profissional. Já até protagonizei alguns personagens... já participei até de pantomimas... mas nada vai se igualar ao dia que fui assistir a peça “Anáguas”.
Cândida, Maria das Graças e Maria Exaurina (per-
sonagens da peça "Anáguas")
Era uma quinta feira, cheguei ao local com bastante entusiasmo. Afinal, iria pela primeira vez assistir uma peça realmente ostentosa. Cenário escuro, candeeiros acesos... cheiro de alfazema com Capim-santo, sentei no meio do cenário. A peça transcorria entre nós, espectadores, que ao paço do embalo musical do verso “Abraça eu mamãe, embala eu mamãe... tem dó de mim...” entoado pelas atrizes, éramos hipnotizados com aquele ambiente. Eu, no meu ato contemplativo daquela cena, fui transmutado a algum tipo de mundo interior, para uma nova consciência que volta e meia me trazia lembranças inconscientes, como se naquele momento, eu mesmo, fazia parte da peça.
Aqueles nomes, aqueles gestos... me incomodavam. Maria Exaurina, Cândida, a velha Maria das Graças. Como aqueles personagens me incomodavam. Cada palavra soava como uma espada transpassando meu intelecto. A velha que tossia, as poses debochadas de Cândida, as palavras de auto calão de Maria Exaurina. Os cânticos, os gestos. Toda a cinese da peça me transpassou. Não tive tempo de pensar outra coisa, eu tinha sido arrebatado pela arte da teatralidade sublime do momento.
A peça conclui, mas tudo aquilo que foi vivenciado naquele dia sempre volta. O embalar das canções, as expressivas palavras das atrizes, os gestos. E sem dúvida, naquele dia eu soube o que realmente era um teatro. 


A peça "Anáguas" foi por mim assistida no Espaço Nordeste Gurinhém/PB em maio de 2012.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Lembranças das Sextas-Feiras



Ternas sextas-feiras
De pranto e candura
Provei-te muitas vezes
Com a mais tênue usura


Muitos foram os gozos

De tuas formas rasgadas
Dos teus gemidos e choros
Que causam dores abafadas


Ó sextas-feiras de gozo

E muita badalação
acabou já teu ser mimoso


Que tanta falta me faz

Fico carente e nervoso
pelas lembranças que me traz


Disponível no Recanto das Letras: http://www.recantodasletras.com.br/sonetos/2392630

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Sobre o inacabamento do ser humano


Há algum tempo venho me debruçando em leituras de ordem psicanalítica. E confesso: como o ser humano possui explicações interessantes sobre seu próprio comportamento. Não é novidade hoje falar em libido, castração, complexo de Édipo; de uma forma ou de outra esses conhecimentos já estão na boca de muita gente. É aquele movimento que nós podemos classificar como vulgarização do conhecimento: já se tornou algo tão (re)discutido, por tanta gente, que já caiu na boca do povo. Vale lembrar que não é "todo povo", mas sim na boca ou no discurso de pessoas que possuem algum tipo de letramento literário e que por alguma inquietação caiu lendo o Freud, o Lacan, etc... Mas o que queremos tratar aqui vai além dos postulados da ciência freudiana. 
O ser humano, como um ser pensante, sempre quis se definir. Colocar-se com uma definição hora pronta, ou as vezes clivada, confusa, etc. isso é praxe da qualidade humana. O que quero chegar com essa afirmação que é considerada chavão dos manuais de filosofia? E justamente demonstrar mais uma vez, de novo, bis (como diria um professor meu de literatura) que o ser humano é um sujeito incompleto. Paulo Freire traz em Pedagogia da Autonomia uma afirmação que desde a primeira vez que eu li fiquei extasiado: "Na verdade, o inacabamento do ser ou sua inconclusa é próprio da sua experiência vital. Onde há vida, há inacabamento."¹ O mestre Freire conseguiu reunir de forma sintética toda a reflexão acerca da experiência de definição do ser humano. Não existe completude, infalibilidade, causa última; por que o sujeito vive na tensão entre sentir-se completo na atualidade do evento e o futuro incompleto que se sugere, ou seja, temos um sentimento de completude efêmero. E isso implicará muitas atitudes. 
Quando o homem não se sente completo, ele vai em busca de uma forma de completar-se. A evolução do indivíduo se dá nessa tensão, como a libido da ciência freudiana. Li em um dos livros da obra completa de Freud que a libido é a pulsão para a vida, o que tem um fundo de verdade. E nessa nossa discussão eu diria que a libido, para a pulsão da vida, é a tensão antes comentada. A prova cabal disso se faz analisar na história humana. Antes se dizia que o homem era superior a mulher, hoje o discurso pregado é o da igualidade (não vamos discutir isso a fundo aqui). Vejamos: em séculos passados essa definição era irrisória, porém o homem moderno hodiernamente a acolhe bem. A verdade antes posta era o superior poder do homem, o que por muito tempo foi considerado verdade absoluta; hoje com o grande sentimento de relativismo permeado na ciência e no cotidiano faz-se necessário que a verdade, antes absoluta, torne-se obsoleta. E uma nova verdade surge para atender as demandas do pensamento humano. Outro exemplo é a efemeridade dos conceitos científicos, psicanálise em um futuro próximo será obsoleta também (se já não é por algumas pessoas). 
E Assim nos propomos a sermos humanos. Pois não sou psicanalista, eu estou psicanalista. Isso nunca vai acabar, e pode até acabar no dia da finitude da vida. Mas, isso também parece não dar conta do conceito de inacabamento, pois muitos vão dizer que a vida continua após a morte. E se a vida continua, continua a tensão, continua o inacabamento, porque afinal somos humanos e estamos fadados a isso.

¹FREIRE, Paulo. Ensinar exige consciência do inacabamento. In: _____. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996; pág.: 50.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Ao falar em poesia...


“O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.”
Autopsicografia - Fernando Pessoa

           
Falar é só o que nós sabemos fazer o tempo inteiro. A verbalização é o meio mais eficaz de sobrevivência do ser humano, sem ela estaríamos fadados ao completo caos. E no meio de tantos falares, de tantas verbalizações, de gritos altamente sonoros, de sussurros, de bradações, exclamações; enfim, nesse urro intenso emanado da cabeça e do coração do homem algo surge como o grotesco, inanimado, mas tido como supremo... fonte das mais belas expressões ou dúvidas: a poesia.
Se poesia cantasse, se poesia sorrisse, se poesia amasse... mas você não ama poesia, você é dura. É duro seu estado em um papel como se estivesse com um véu, eternamente velada. De lá não sai, de lá se se escuta o seu ruído. Vive em prisão eterna, vive em confinamento último. Claustro das paixões, terreno de nenhuma confissão. E esse nada dizer tudo. Confiável amiga dos meus sentidos: quero-te em pranto e festa.
Poeticamente deixei meus versos sobressaírem em lágrimas que adormeciam nas dores de um parto. Grito fumegante que a minha musa inspiradora deu ao conceber de forma inversa a mais nova filha da inconsciência, da continência, eterno verbo a se conjugar.
E para se conjugar, falando de poesia, é necessário que o canto seja dos mais suaves, pois não se acredita que um cantor das mais belas liras tenha um coração amargurado, que seja capaz de detonar e fazer sangrar a sua amada afinal. E sobre tudo isso... onde está o valor da poesia? De que serve perder tempo na varanda de casa ao se irritar com os lutadores das palavras que procuram chaves para entrar no mundo da poesia, lutadores que em suas sombras trazem os mais ingênuos leitores que se permitem levar na primeira rima rica que se deixa pela frente... poesia? Não vale nada, no papel, sob o véu de nossa ignorância.
Cartas de amor, irrisórias falácias ao vento, os vibres de uma elegia, a prece, a romaria... tudo em ti poesia se cabe, mas do que adianta se em papel não valeis nada. Quisera eu que a poesia tivesse alcançado a sensibilidade de uma pintura, fraqueza corroborada em pequenas paixões ao qual não se cessa de conotar, denotar, exclamar e até mentir o verbo amor.
Enfeita romance e intriga. Cantiga de ninares das damas europeias. Falando em ti poesia, tu que és das mais sedutoras das meretrizes, da mais feia das moribundas... senha da inconstância.  Onde críticos dão as mais perfeitas fórmulas-chave de sua interpretação.
Canto triste que a lembranças de futuro nos remete, corroendo nosso sentido e solidão em tristezas de amores líquidos. Dirigindo seres oblíquos, por vezes bitransitivos, cheios de partículas expletivas de consolo e ação.
Mas sobre ti tento e não revelo completamente toda a face, pois em ti amiga não encontrei completamente teus olhos, apenas uma partícula microscópica de teu coração. Que em luta tento fugir dela como o pescador da barca bela. Tendo por esse remédio me tornado um ser nem alegre, nem triste... que tenta inutilmente jogar fora as cascas inúteis das horas e mesmo assim em labuta interminável reproduzir a poesia.
Não quero falar mais em poesia. Embriaguez súbita ela me proporciona ao ponto de matar o meu espírito pra nunca mais rejuvenescer. Poesia... seja de tarde ou de dia, mas é a noite que ela veste o seu vestido púrpura de desencanto e desilusão. Em contrapartida dá um beijo apaixonado no seu amante chamado razão.